Entro em casa, depois de um dia de trabalho e ponho música, ponho-a bem alta até que todo o prédio a consiga ouvir… E naqueles instantes sou só eu, a música e a dança. Relaxo os ombros, rodo a cabeça, estico os dedos e os braços e começo a bater o pé até o ritmo entrar no corpo todo. Sou livre de movimentos, rodo, paro, volto a rodar até sentir que está perfeito tal como nos velhos tempos. Aqui não há ninguém para observar, para julgar nem para me dizer o que está bem ou mal, sou só eu e os meus pés. Acaba a música que gosto, volto a pô-la novamente, a fazer outros movimentos, a ter outros sentimentos e toda a minha vida de dançarina passa em slow motion na minha cabeça e arrepio-me. Aqui só sou eu e a minha dança. Danço até sentir-me cansada e que o corpo naquele momento já não tem mais forças ou já não quer continuar, fico ali apenas a ouvir a música, com a cabeça sem nada mas cheia de tudo. Os movimentos tornam-se mais lentos, estico as pernas até sentir a dor nos gémeos, estico os pés até sentir que não se podem dobrar mais… Porque aqui sou só eu e as minhas recordações!